A Atuação Psicopedagógica Frente ao Autismo

14/02/2013 14:19

A Atuação Psicopedagógica Frente ao Autismo

São Paulo, UNASP-EC.
alinepassosramos.psico@yahoo.com.br

Resumo: O presente artigo trata sobre a atuação do psicopedagogo mediante casos de transtornos comportamentais, com ênfase no autismo. O autismo é causado por fatores orgânicos e provoca desordem no desenvolvimento cognitivo, social e emocional, podendo variar do grau leve ao severo. Devido a estes fatores o autista apresenta problemas de aprendizagem, sendo assim necessita do auxílio do psicopedagogo em conjunto com demais profissionais. Na prática psicopedagógica, iremos encontrar casos de dificuldades no processo de aprendizagem devido a distúrbios de comportamento de forma geral e precisamos estar preparados para realizar intervenções adequadas, contribuindo de forma significativa para a melhoria da qualidade de vida do indivíduo. Esta pesquisa aborda como a intervenção psicopedagógica pode contribuir com o desenvolvimento do autista estimulando seu processo de aprendizagem.

Palavras ? chave: transtornos comportamentais, autismo, desenvolvimento, intervenção psicopedagógica

Abstract: The present article talks about the performance psychopedagogists in cases of behavioral disorders, with emphasis in autism. The autism is caused by organic factors and causes clutter in the cognitive, social and emotional development, being able to vary of the light degree to the severe one. The autist presents learning problems because these factors, and for this he needs aiding of psychopedagogists in set with other professionals. In the psychoeducational practice we will find cases of learning difficulties because of behavioral disorders in general. We must be prepared to make appropriate interventions to contributing significantly in the quality improving of person life. This research explores how the psychoeducational intervention can contribute for the development of autist by stimulating his learning process.

Key words: behavioral disorders, autism, development, spoke Psychopedagogical

Introdução

Ainda no útero materno, o ser humano inicia o seu processo de desenvolvimento comportamental, sendo este um processo contínuo que dura por toda a vida, passando por inúmeras modificações no decorrer dos anos.
Quando criança, este processo de desenvolvimento comportamental recebe influência dos adultos que tem contato direto com o indivíduo em crescimento e também do ambiente em que este ser está inserido.
Portanto, para que a criança tenha condições de se desenvolver de forma plena e saudável é de suma importância, que os adultos que a influenciam, sejam equilibrados e tenham uma conduta firme e saudável.
É importante também, que o ambiente ao qual ela faz parte, seja de aceitação, compreensão e amor. É preciso que seus cuidadores saibam que no processo de desenvolvimento a criança passa por fases diferenciadas até alcançar a maturação, devendo-se reconhecer e respeitar cada fase, pois "se houver desequilíbrio entre as exigências infantis e sua satisfação, pelo ambiente, abrir-se-á caminho para o desenvolvimento neurótico." (GRUNSPUN, 1979, p. 09)
Se a criança estiver inserida em um ambiente onde não há esta compreensão e o preparo adequado para auxiliar em seu desenvolvimento, ela estará propensa a desenvolver-se com problemas de comportamento.
Ainda para o autor (1979, p. 09):

A conduta patológica se inicia na luta para a satisfação das necessidades da criança ? de crescer na maneira que lhe é natural, isto é, chegar à sua auto-realização. [?] Esta auto-realização não se dará se, em lugar de cuidados normais para com suas necessidades, receber preocupações e ansiedade para com ela, se só for aceita quando corresponder a um determinado padrão preestabelecido pelos pais.

Ao desenvolver uma conduta patológica o indivíduo enfrenta problemas de aprendizagem, de relacionamento social e pessoal, acarretando assim dificuldades na vida escolar e na vida cotidiana, levando-os a agregar para si outros problemas.
Os casos de transtornos comportamentais não são raros, nos dias atuais, tornando muito comum a presença de indivíduos com comportamento patológico, em todos os grupos sociais, podendo assim, prejudicar o convívio do grupo, ou até mesmo, agravar a situação do indivíduo, se este não for tratado da maneira adequada.
Por isso, este trabalho propõe-se a analisar como o psicopedagogo, pode intervir em casos de transtornos comportamentais, a fim de auxiliar o individuo em sua reabilitação ou minimização dos sintomas comportamentais, tornando-os mais sociáveis e facilitando seu processo de aprendizagem.

Definição de transtornos comportamentais

Transtorno tem por característica um comportamento que exprime contrariedade, que possui atitudes contrárias aquilo que se é esperado e considerado normal dentro do parâmetro social.
Comportamento, de acordo com o Dicionário Aurélio (2001) "é o procedimento, a reação em face de um estímulo, são as maneiras de agir relacionadas coma presença ou influência de outros."
Para o dicionário internacional de psicologia, distúrbio de conduta é "Qualquer hábito desajustado não causado por danos orgânicos e nem diretamente relacionado a uma psicose ou neurose, ocorre principalmente em crianças ou jovens."
Segundo Grunspun (1979) o comportamento começa a se desenvolver de forma progressiva e mutável desde o nascimento, tornando-se estruturado ao se alcançar a maturidade.
Há inúmeros transtornos comportamentais, dentre as quais, pode-se citar: o Autismo, o Mal de Alzheimer, a Anorexia e a Bulimia nervosa, o Transtorno Bipolar, o Transtorno Obsessivo-compulsivo, Síndrome do Pânico, Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), Depressão, Ansiedade, Alcoolismo, Vícios, dentre outros.
Algumas pessoas podem apresentar apenas um dos tipos de transtorno comportamental, outros indivíduos podem apresentar vários deles de forma combinada, dificultando assim, a intervenção do profissional indicado.

Quando uma atitude patológica se apresenta em todas as modalidades, ela é grave e o distúrbio de conduta será muito grave. Quando se apresentar, somente, sob uma só modalidade superficial, o distúrbio de conduta será leve e de remissão rápida. (GRUNSPUN, 1979, p. 22)

Os transtornos comportamentais ocorrem com grande frquência e afetam inúmeras pessoas, de todas as faixas etárias. Alguns casos apresentam seus primeiros sinais desde a infância, outros aparecem na adolescência e juventude e há alguns que se manifestam na vida adulta.
Os distúrbios de comportamento apresentam-se em diferentes graus de gravidade. Indo "desde ?desvios de conduta menores? até a ?delinqüência grave? com obstinação, rebelião, birra, destruição, mentira, roubo, incendiarismo, etc." (GRUNSPUN, 1979, p. 112)
Estes são problemas e atitudes que afetam o desenvolvimento do desempenho e o rendimento escolar, podendo gerar grandes dificuldades de aprendizagem e de socialização e entre os colegas de classe, necessitando de um acompanhamento não só psicopedagógico, como também de outros profissionais especialistas.

O trabalho psicopedagógico

A psicopedagogia surgiu, devido a necessidade de uma melhor compreensão dos processos de aprendizagem, tornando-se uma área especifica de estudo, pesquisando os fatores externos e internos que estão diretamente ligados a este processo de desenvolvimento. Fundamenta sua prática e teoria sob a articulação de três escolas: a psicanalítica, de Sigmund Freud, a piagetiana de Jean Piaget e a da teoria do vinculo e do apego de Pichon Riviere.
De acordo com Carvalho e Cuzin (2008, p.19) "[?] para a psicopedagogia interessa-se o estudo e a intervenção sobre o indivíduo com dificuldade de aprendizagem, sejam elas quais forem, em todas as áreas de sua vida ? emocional, cognitiva e social."
As dificuldades de aprendizagem podem ser causadas ou desencadeadas por inúmeros fatores, tais quais, atrasos no desenvolvimento, acidentes que comprometem a integridade de órgãos necessários para este processo, patologias, principalmente as ligadas ao sistema neurológico, dificuldade de acompanhamento devido a metodologia ou a outros fatores externos, transtornos comportamentais, dentre outros fatores.
Visca (1987, p. 08) nos diz que:

O psicopedagogo tem como função identificar a estrutura do sujeito, suas transformações no tempo, influências do seu meio nestas transformações e seu relacionamento com o aprender. Este saber exige do psicopedagogo o conhecimento do processo de aprendizagem e todas as suas inter-relações com outros fatores que podem influenciá-lo, das influências emocionais, sociais, pedagógicas e orgânicas.

Após identificar, o psicopedagogo deve intervir de forma a contribuir no desenvolvimento e melhoria do processo de aprendizagem auxiliando a aumentar o rendimento escolar do individuo em atendimento. Muitos chegam para o psicopedagogo com preocupação em relação ao fracasso escolar.
De acordo com Weiss (2008, p.16):

Fracasso escolar é uma resposta insuficiente do aluno a uma exigência ou demanda da escola, porém, no diagnostico psicopedagógico do fracasso escolar de um aluno não se podem desconsiderar as relações significativas existentes entre a produção escolar e as oportunidades reais que determinada sociedade possibilita aos representantes das diversas classes sociais.

Por isso, é muito importante que o psicopedagogo observe todos os aspectos que estão relacionados à criança de forma atenta e crítica a fim de perceber tudo aquilo que está envolvido em seu processo de desenvolvimento e aprendizagem.
O psicopedagogo tem um amplo campo de atuação e trabalha de diferentes formas. Há o campo da psicopedagogia institucional, que abrange empresas, escolas e hospitais, cada um destes locais, exige um perfil diferenciado de trabalho. O trabalho institucional é preventivo e realizado com todo o grupo.
Existe também o campo da psicopedagogia clínica, onde o profissional irá atender de forma individualizada, sendo esta uma atuação terapêutica. Mesmo dentro de uma instituição, o psicopedagogo pode desenvolver o trabalho clínico, de acordo com a proposta e a necessidade do local onde está inserido.
Segundo Visca (1987, p. 08)

A distinção entre o trabalho clínico e o preventivo é fundamental. O primeiro visa buscar os obstáculos e as causas para o problema de aprendizagem já instalado; e o segundo, estudar as condições evolutivas da aprendizagem apontando caminhos para um aprender mais eficiente.

De forma geral, tanto no trabalho clínico, como no institucional, o psicopedagogo lida com distúrbios, problemas e dificuldades de aprendizagem. Os distúrbios estão relacionados a fatores orgânicos e requer que a intervenção obrigatoriamente seja feita em conjunto com um neurologista e\ou um psiquiatra. Os problemas de aprendizagem têm ligação com questões emocionais, sociais e familiares, por isso exige um acompanhamento em conjunto com o psicólogo, tendo um acompanhamento psicológico e afetivo. As dificuldades estão mais diretamente ligadas ao processo de aprendizagem normal e podem ter como causa à falta de adaptação a metodologia utilizada, o relacionamento com o professor, ou a dificuldade no acompanhamento das atividades propostas, neste caso o psicopedagogo pode intervir sozinho.
Na maioria dos casos o psicopedagogo irá trabalhar em conjunto com outros profissionais, a fim de realizar um tratamento mais abrangente e obter um resultado mais completo em relação ao desenvolvimento do indivíduo e a recuperação da dificuldade apresentada, dando-lhe a possibilidade de um acompanhamento mais completo.
Normalmente os profissionais que trabalham em conjunto com o psicopedagogo, são: fonoaudiólogos, neurologistas e psicólogos, porém há outros profissionais que também podem compor este quadro. Esta equipe multidisciplinar age em conjunto e devem estar de acordo em relação aos métodos utilizados para que a recuperação do indivíduo tenha uma evolução rápida e proveitosa.
Para chegar ao diagnóstico final, é necessário que o indivíduo passe por uma avaliação desta equipe multidisciplinar, pois só assim é possível identificar de forma assertiva qual tipo de dificuldade está sendo apresentada e qual a forma mais eficaz de trabalho para que o problema possa ser solucionado mais rapidamente, lembrando sempre que há problemas para os quais poderá haver uma melhora significativa, porém nunca se alcançará a cura, por relacionar-se a fatores orgânicos irreversíveis.
O psicopedagogo atua de forma terapêutica, intervindo na maioria das vezes a partir de jogos, histórias, dentre outros elementos, partindo sempre da realidade do cliente, a fim de tornar interessante o processo de recuperação, emprestando-lhes o desejo de aprender e estimulando-o a fim de superar suas limitações.

Características do autismo

De acordo com Sutherland (1990) o autismo é "uma preocupação patológica com os próprios pensamentos, excluindo as pessoas que estão no mundo exterior."
Para Roudinesco (1998) o autismo é um "termo criado [?] para designar o ensimesmamento psicótico do sujeito em seu mundo interno e a ausência de qualquer contato com o mundo exterior, que pode chegar inclusive ao mutismo.
Com base nestas definições, pode-se perceber que o autismo é uma patologia que provoca atraso e desarmonia no desenvolvimento físico, mental e cognitivo. Apresenta-se desde a mais tenra idade e possui características específicas. Ele [é classificado como um transtorno invasivo do desenvolvimento, de acordo com o CID 10, que é o manual de códigos das doenças e de acordo com o DSM ? IV, que é o manual dos transtornos mentais.
O primeiro a utilizar o termo autismo foi o Dr. Leo Kanner, em 1943, ao publicar um influente artigo sobre este assunto, pouco tempo depois o Dr. Hans Asperger, tornou público alguns casos de crianças que foram atendidas na Clínica Pediátrica Terapêutica de Viena, que apresentava características semelhantes às descritas pelo Dr. Kanner, porém ao que se indica o Dr. Asperger não tinha ainda o conhecimento de tais publicações e em 1944, publicou seu próprio artigo, o qual intitulou de "a psicopatia autista na infância".
Desde então, muitos pesquisas tem sido realizadas e publicadas a respeito do tema. Cada autor apresenta características que ajudam a identificar este transtorno.
De acordo com Gadia (2006, p. 423):

Hoje, sabe-se que o autismo não é uma doença única, mas sim um distúrbio de desenvolvimento complexo, que é definido de um ponto de vista comportamental, que apresenta etiologias múltiplas e que se caracteriza por graus variados na gravidade

Esta síndrome envolve grandes dificuldades no decorrer da vida e gera grandes prejuízos, não só em termos cognitivos, como também em termos sociais, comunicativos e emocionais.
São percebidas alterações orgânicas, nos indivíduos que apresentam autismo. Essas alterações são percebidas no sistema nervoso central, no sistema límbico, no cerebelo, nos aspectos neuroquímicos e neurofisiológicos, enfim, em toda estrutura cerebral, podendo ser identificados através de exames clínicos. Porém, é importante lembrar que a avaliação de tais indivíduos deve ser realizada por uma equipe multidisciplinar e com a utilização de técnicas estruturadas e escalas objetivas.
As anormalidades no desenvolvimento se apresentam logo no primeiro ano de vida, porém é difícil dizer com precisão exata a idade do surgimento dos primeiros sintomas, é necessário que os pais observem as características que o indivíduo apresenta desde bebê. No entanto, foi estabelecido que o autismo deve ser identificado até no máximo, os três anos.
O autismo é um distúrbio do comportamento humano que ocorre com uma frequência de três a quatro vezes mais em meninos que em meninas, ele é caracterizado por: dificuldades na utilização da comunicação verbal e não verbal, incluindo gestos, expressões faciais e corporais, dificuldades de socialização, problemas em demonstrar emoções, simpatia e empatia, possuem dificuldades cognitivas, instabilidade de humor, dentre outras características. Não é necessariamente acompanhado pelo retardo mental, apesar de haver alguns casos onde existe a combinação destes dois distúrbios em um mesmo indivíduo.
Por ter problemas de socialização e interação, muitas vezes, de acordo com Leboyer, o autista se comporta mais frequentemente como se estivesse só, como se as outras pessoas não existissem, vivem no seu próprio mundo, muitas vezes não reage quando lhe chamam pelo nome e olham através da pessoa que está tentando se comunicar, evitando o contato visual.
Não são afetuosas e não estabelecem laços fortes nem mesmo com os pais, apresentando certa frieza nas mais variadas situações, ainda de acordo com Leboyer, as crianças autistas não procuram ser acariciadas e não esperam ser reconfortadas pelos pais quando têm dor ou quando têm medo. Algumas crianças podem demonstrar certo afeto, porém, o fazem apenas por conveniência e não naturalmente.
A sua comunicação é deficitária, com vocabulário reduzido, muitas vezes estes indivíduos apenas reproduzem o que falam com ele, possuem também grande dificuldade em compreender linguagem abstrata, sendo assim é necessário, ao comunicar-se com um autista, evitar o uso de metáforas e palavras ou frases ambíguas.
Para Parente (2010, p.05) "Aqueles que possuem prejuízo cognitivo grave têm menor probabilidade de desenvolver linguagem e maior chance de apresentar comportamentos de auto-agressão, requerendo tratamento por toda a vida."
O prejuízo cognitivo é bastante significativo, visto que as alterações orgânicas afetam partes essenciais para o processo de aprendizagem.
Ainda para a autora (2010, p.14):

Esses indivíduos têm um estilo cognitivo qualitativamente diferente e distúrbios em funções que normalmente usamos para chegar ao conhecimento na escola, na interação social, na comunicação verbal e não verbal e na imaginação

Porém, alguns apresentam inteligência preservada, outros ainda possuem a capacidade de ter o hiperfoco em determinado assunto que lhes chame atenção. Alguns são capazes de fazer cálculos mentais de forma extremamente rápida, outros podem apresentar ouvido absoluto, outros se interessam de forma acentuada por assuntos específicos muito complexos para sua idade, deve-se tomar cuidado e observar atentamente indivíduos que apresentam tais características, pois podem ser confundidos e tidos como crianças que possuem altas habilidades, sendo assim não são tratadas corretamente, acarretando outros problemas.
Normalmente, os indivíduos que possuem a inteligência preservada, são portadores de Síndrome de Asperger, que também é tido como um transtorno invasivo, de acordo com o DSM - IV, ele apresenta características muito semelhantes as do autismo, porém em todos os casos desta síndrome, os indivíduos apresentam capacidade normal de inteligência. Deve-se saber diferenciar os portadores de Síndrome de Asperger, dos que apresentam autismo.
Apesar do crescente número de estudos sobre este distúrbio, não há uma posição pronta sobre o assunto, pois, como afirma Gadia (2006), hoje se sabe que o autismo é um transtorno genético complexo que ainda deve ser mais bem esclarecido.


Atuação do psicopedagogo com autistas

Devido as suas características peculiares, os autistas apresentam dificuldades de aprendizagem e têm a necessidade de um acompanhamento terapêutico. Por se tratar de um transtorno de origem orgânica é obrigatório que haja um acompanhamento com o psicólogo e um neurologista ou psiquiatra, pois, se trata de um problema funcional, provocado por fatores físicos e que afetam também as questões emocionais.
Apesar de não haver medicamentos e tratamentos específicos para o autismo, a famacoterapia é um elemento importante para o tratamento, porem alguns autistas não necessita dos fármacos, podem viver tranquilamente sem eles, visto que o psicopedagogo não pode receitar o neurologista ou psiquiatra deve transcrever as receitas.
Até o presente momento não é conhecida a cura para o autismo e sua gravidade oscila bastante, produzindo diferenças significativas no quadro clinico, [e uma síndrome bastante complexa, porem, apesar desta complexidade e de ser preciso o envolvimento dos outros profissionais, não se pode ignorar a importância e a necessidade do trabalho do psicopedagogo mediante as dificuldades de aprendizagem ocasionadas pelo autismo.
De acordo com Carvalho e Cuzin (2008), o psicopedagogo deve trabalhar, visando sempre à minimização das limitações e a maximização das potencialidades do sujeito inserido no sistema.
O psicopedagogo deve montar uma intervenção adequada considerando as características individuas do cliente, pois devido à oscilação da gravidade do autismo, citada acima, o tratamento ira variar de caso acaso.

Um tratamento adequado é baseado na consideração das co-morbidades para a realização de atendimento apropriado em função das características particulares do indivíduo. A terapêutica pressupõe uma equipe multi- e interdisciplinar ? tratamento médico (pediatria, neurologia, psiquiatria e odontologia) e tratamento não-médico (psicologia, fonoaudiologia, pedagogia, terapia ocupacional, fisioterapia e orientação familiar), profissionalizante e inclusão social, uma vez que a intervenção apropriada resulta em considerável melhora no prognóstico .

Alguns sintomas do autismo se modificam ao longo da vida, alguns diminuem a intensidade, outros passam a fazer parte do contexto do individuo, a intervenção também deve acompanhar essas mudanças, ou seja, o planejamento do tratamento deve ser estruturado e reestruturado de acordo com as etapas da vida do paciente.
Por ser uma síndrome que provoca desordens no desenvolvimento global, torna-se necessário, uma intervenção abrangente, que focalize em todas as áreas, social, emocional e cognitiva. Alguns autores defendem que as técnicas de intervenção, devem focar na melhoria do desenvolvimento das habilidades sociais e da capacidade de linguagem, enfatizam a importância de não encorajar comportamentos que se tornaram inapropriados com o passar do tempo.
Há abordagens que auxiliam no trabalho de desenvolvimento da comunicação e do ensino de meios alternativos para tal. Os comportamentos sociais também devem ser trabalhados, devido a tendência que possuem, de apresentar comportamentos inadequados, deve-se mostrar o que e certo e não tolerar o erro, para que este não se transforme em habito.
É preciso estabelecer regras e limites no trabalho com autistas, a fim de podermos ter o controle da situação e de auxiliá-los a lidar com algumas dificuldades, porem de acordo com Parente (2010, p.11):

Ainda que o estabelecimento de regras claras para lidar com essas dificuldades seja útil, saber como fazer amigos, entender os sentimentos e pensamentos das demais pessoas não são habilidades baseadas em regras que são aprendidas por meio do ensino.

Essas habilidades são aprendidas por meio de vivências e interação, porém, aprender a interagir com outras tarefas é uma tarefa árdua para o autista e o psicopedagogo deve promover meios para que isto aconteça.
A escola tem papel fundamental no processo de desenvolvimento de qualquer indivíduo, tendo como objetivo máximo, auxiliar no desenvolvimento da aprendizagem de todo ser humanos independente de suas limitações, por isso a escola é também necessária para o desenvolvimento do autista.
Para Bonora (2010, p. 27):

A escola deve ser um local onde qualquer aluno consiga desenvolver seu potencial e superar seus limites. Através do psicopedagogo a eliminação de barreiras e a criação de estratégias que muitas vezes são simples e fazem parte da estratégia de ensino utilizado pelo professor irá possibilitar que o currículo escolar atenda a todos os alunos.
Estando inserido em uma escola, o psicopedagogo deve tambem auxiliar na adaptação do autista na interação com o meio social e na adaptação das crianças com desenvolvimento típico em relação ao autista, pois esta reciprocidade [e necessária para que a interação seja completa e para que haja harmonia no ambiente escolar. Deve-se ter sempre em mente que o psicopedagogo, "[é responsável em conciliar as inesperadas situações que podem surgir como interferência no processo de ensino-aprendizagem" (Carvalho e Cuzin, 2008).
Devido ao fato de que as pessoas com esta síndrome têm dificuldades em compreender a linguagem figurativa, metafórica e ambígua, o psicopedagogo deve se comunicar da forma mais direta e clara possível, a fim de evitar maiores problemas na comunicação, deve também orientar ao educador a agir da mesma forma, e assim evitar complicações.
Fornecer suporte para a família, auxiliando a diminuir o estresse provocado pelas circunstâncias é de grande valia, pois muitas famílias não possuem orientação adequada sobre como lidar com o problema e acabam se desgastando e trazendo maiores dificuldades para o contexto familiar, oferecer orientações e apoio pode trazer grande melhoria para o convívio e aumentar a qualidade de vida de toda família.
O psicopedagogo deve ter consciência de seu papel e responsabilidade profissional e social e acima de tudo deve respeitar, prezar e zelar por cada vida que for colocada sob seus cuidados, lembrando sempre que cada ser é único e que cada um possui singularidades que precisam ser respeitadas e que são estas diferenças que dão significado à vida.

Metodologia

Esta pesquisa está classificada nos critérios de pesquisa bibliográfica para o embasamento teórico.
Partindo da pesquisa realizada, os dados foram analisados a partir de leitura crítica e redação dialógica a partir dos autores apresentados.

Considerações finais

Intervir em casos de patologias comportamentais requer dedicação e esforço. Exige um grande preparo e se faz necessário que o psicopedagogo pesquise e se aproprie do conhecimento, pois só assim poderá intervir de maneira significativa e contribuir de fato para a vida do individuo.
Trabalhar com autistas especificamente, exige conhecimento, auto-controle, disposição e amor. É preciso ter uma visão estratégica, e ter consciência da responsabilidade profissional e social que tem em suas mãos.
A intervenção deve ser realizada de forma completa e interligada com a escola e a família, pois, não há como dissociar uma da outra visto que ambas fazem parte do contexto do indivíduo. Para isso, o profissional deve estar preparado para oferecer suporte a todas as partes, oferecendo orientações e fornecendo o apoio necessário e desejado.
É preciso auxiliar no desenvolvimento da linguagem, das habilidades sociais e no desempenho acadêmico, os levando a perceber a necessidade disto para toda a sua vida, é preciso despertar neles o desejo de aprender, emprestando o seu próprio desejo, até que este se torne propriamente dele. É importante também, prepará-los para o convívio social, pois este lhe será necessário por toda a vida.
O psicopedagogo deve ser um exemplo, por isso deve ter sua vida equilibrada e organizada, servindo assim de grande influencia para a vida daqueles com quem entrar em contato, tendo a oportunidade de transformar, de provocar mudanças e de deixar sua marca por toda a vida, afinal, só vale a pena viver se for para se tornar útil para a humanidade, mudando uma vida de cada vez.

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Leia mais em: https://www.webartigos.com/artigos/a-atuacao-psicopedagogica-frente-ao-autismo/53921/#ixzz2KtJKVLBH

Fonte: https://www.webartigos.com/artigos/a-atuacao-psicopedagogica-frente-ao-autismo/53921/

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Paula Reis Psicopedagoga Clínica e Institucional- ABPp nº 12506